quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Nascimento 17/02/2011





Nada mais bonito do que acompanhar o nascimento das pequenas, nessa hora você sente que valeu a pena atravessar o Brasil, gastar o dinheiro que você não tem e trabalhar diariamente embaixo de sol escaldante.
O tempo de eclosão varia de acordo com as espécies e temperatura da areia, aqui no litoral da Paraiba, como 90% das tartarugas que desovam são a tartaruga de pente, sabemos que o tempo de incubação demora entre 45 a 60 dias, sendo mais comum com 50 a 53 dias.
O Projeto TAMAR- ICMbio, é o mais conhecido mundialmente pelo manejo de tartarugas marinhas, o trabalho deles ocorre em áreas livre de urbanização, com exceção da base de Ubatuba, mas que não corresponde a uma área de desova e sim de alimentação. 
Na Associação Guajiru, que possui parceria técnica do TAMAR, o trabalho ocorre em praias muito urbanizadas, logo são necessárias intervenções para que não ocorra extinção regional destes animais.
As tartarugas marinhas, possuem o que chamamos de fidelidade reprodutiva, ou seja, quando nascem são capazes de fazer leitura do campo magnético da Terra, através de mecanismo ainda desconhecido, o que funcionara como um GPS, assim que alcançarem idade reprodutiva retornarão a praia onde nasceram para desovar. Além disso, a cada 1000 tartaruguinhas nascidas 1 ou 2 chegarão a maturação sexual, porém isso só ocorre com entre os 20 ou 30 anos. Esses dados ocorrem em condições naturais, desconsiderando ainda as atividades antrópicas que afetam essas populações.
As tartaruguinhas que naturalmente nascem durante a noite e se guiam pelo branquinho das ondas quebrando na areia para atingir o mar, se confundem com a iluminação urbana seguindo em direção contrária e morrendo de cansaço, desidratação ou mesmo atropeladas.
A partir da criação da ONG, os ninhos passam a ter seus nascimentos monitorados, realizados   durante o dia, através de uma técnica denominada cesária de areia.
Com o perfil de temperatura da região conseguimos ter uma previsão da eclosão dos ovos, com isso, a partir da data prevista começamos a verificar diariamente o ninho observando se houve ou não eclosão do ovo e em qual profundidade elas estão. Quando atingem cerca de de 20 cm de profundidade em relação a superfície, significa que nasceram naquela noite. Então fazemos a intervenção, realizando o nascimento as 15h30m e chamando a comunidade para assistir, como instrumento de sensibilização.
Para fazer o nascimento, isolamos a área do ninho e de soltura, fazemos uma planagem na areia, para retirar marcas de pegadas que causam um gasto energético enorme para as tartaruguinhas. Retiramos-as uma a uma atentas para não perder a conta, depois contamos também os ovos gorados (não fertilizados), os embriões que não vingaram e as tartarugas nascidas com algum defeito.


No nascimento do dia 17/02/2011 soltamos 42 tartaruguinhas no mar, lindas e indefesas nadarão até encontrarem um local abrigado e com alimento disponível, estudos demonstram que nas primeiras 24 horas 10% já serviram de alimento para outras espécies, inclusive para animais que possuem valor comercial, o que demonstra o  um papel ecológico importantíssimo  que se alterado afetará a população humana.


Tartarugada



Dia 15/02/2011 foi um dia especial para os estagiários da Associação Guajiru, pois saímos numa Tartarugada. E para quem não sabe o que isso significa, eu explico: um monitoramento noturno em praia que ocorre desova de tartarugas marinhas, porque assim é possível avistar as fêmeas realizando a postura.
Estávamos com um número grande de estagiários no dia, então foi possível nos dividir em dois grupos, desta forma garantindo a segurança de todos. O grupo guiado pela coordenadora do projeto Rita Mascarenhas e pelas tartaruguetes Vanessa e Gabriela, seguiram com os demais estagiários seguiram ao sul da Praia de Intermares e o grupo que eu estava inserida junto com a Cami, o Mozart e mais outros estudantes, fomos para o norte da mesma praia.
Iniciamos a nossa tartarugada as 20h30m, todos foram dispostos a passar a noite percorrendo a praia, se assim fosse necessário, estavamos munidos de lanternas, canivetes, capa de chuva, lanchinhos e alguns friorentos portavam inclusive blusas de frio, porém as 20h40m o outro grupo já conseguiu avistar uma fêmea.
A tartaruga era da espécie popularmente conhecida como de Pente, E. imbricata, que coloca cerca de 150 ovos por ninho, ao avista-la o grupo deve se manter afastado até que esta inicie a desova.
Quando o animal sai do mar e encontra o local adequado para a nidificação, inicia o procedimento cavando o Body Pit, que é um buraco que a mantém camuflada. Depois de garantir a sua segurança, a tartaruga começa a cavar a câmara de ovos com as nadadeiras traseiras e inicia a desova, é a hora de se aproximar, pois a tartaruga entra numa espécie de transe e não se pertuba com o movimento ao seu redor, neste momento os biólogos iniciam procedimentos de biometria, marcação e coleta de material biológico, para pesquisas e acompanhamento da fêmea, que possibilitaram aperfeiçoamento nos mecanismos de conservação da espécie.
Depois da desova, a mãe tartaruga cobre os ovos e faz o disfarce da cama com as nadadeiras dianteiras e segue seu caminho de volta para o mar, a partir dai sua missão foi cumprida ss tartarugas marinhas não possuem cuidado parental, agora corre tudo por conta da natureza.


quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Associação Guajiru







Associação Guajiru é uma ONG ( Organização Não Governamental), localizada na praia de Intermares, no município de Cabedelo/PB, atuante desde 2002 foi criada por biólogos e pessoas da comunidade preocupadas com a conservação ambiental, promoção da ciência e educação. Para atingir este objetivo trabalham com dois projetos: Tartarugas Urbanas e Escola do Surfista, que funcionam com apoio exclusivo de voluntários.
O projeto Tartarugas Urbanas move esforços para conservar as praias de João Pessoa em que ocorrem desova de tartarugas, garantindo a procriação das espécies e a convivência pacífica entre estes animais e os usuários da praia. A denominação do projeto foi escolhida porque a área de desova das tartarugas esta localizado dentro do perímetro urbano, portanto sujeita a diversos impactos ambientais negativos.
Das cinco espécies de tartarugas marinhas existentes no Brasil a Tartaruga de Pente ( Eretmochelys imbricata) é a mais comum no litoral paraibano, a temporada reprodutiva da espécie vai de novembro a junho, com picos de desova entre os meses de fevereiro e março. Uma mesma fêmea pode fazer mais de uma desova por período reprodutivo, colocando cerca  de 150 ovos por ninho. Já sofreu muito com a caça predatória, seu casco foi extremamente utilizado na fabricação de adornos como bijuterias, armação de óculos e pentes. Hoje em dia a 
espécie é classificada como criticamente em perigo de extinção (IUCN).
Nas praias de Intermares (Cabedelo/PB) e Bessa (João Pessoa/PB), são os locais que ocorrem maior concentração de desovas, porque, apesar da urbanização, as características naturais essências para que ocorra a desova permanecem próprias e isso se deve muito a atuação da ONG nestas praias. 
Religiosamente, todos os dias pela manhã, uma legião de voluntários sob a coordenação da Profa. Dra. Rita Mascarenhas, percorrem quilômetros de praia em busca de novos ninhos, reconhecidos pelo rastro deixado na areia e a "bagunça" típica deixada pela mãe tartaruga.



Rastro de tartaruga marinha na areia.


Pelo rastro conseguimos saber por onde a tartaruga subiu e por onde ela voltou para o mar. Na chegada ela esta mais pesada por causa dos ovos que carrega e o esforço é maior, fazedo marcas mais profundas na areia, enquanto na decida, bom "Para descer todo santo ajuda", logo o rastro é mais superficial.
Posteriormente, a câmara de ovos é localizada apenas por biólogos ou pessoas da comunidade treinadas, com procedimento que em outros tempos era utilizado por pessoas que consumiam os ovos.
Estes são cercados com madeiras e tela, para protege-lo da ação de predadores, inclusive o homem, são catalogados, numerados e monitorados diariamente. Quando há algum em área de risco e necessário fazer transposição dos ovos para uma área abrigada.



Ninho cercado, evidência de urbanização ao fundo.

Praias urbanas trazem uma série de imapactos ambientais negativos que refletem nas tartarugas. O trabalho é árduo, todo feito na raça, com muita força de vontade dos envolvidos e pouco dinheiro, mas é extremamente gratificante e me orgulho de poder fazer parte disso.