terça-feira, 10 de abril de 2012

São Paulo e as Bicicletas.

    Ah, bicicleta!!! Certamente foi o presente mais desejado que recebemos quando crianças, nunca esqueceremos deste momento e dos que nos ensinaram o passo a passo para dominar ao que a princípio parecia uma fera: primeiro umas pedaladas com as duas rodinhas, depois com uma rodinha e depois da primeira vez equilibrados nunca mais deixamos de saber como fazer.
    As vezes somos surpreendidos por tombos que ralam nossos joelhos no asfalto, mas nunca desistimos da sensação de liberdade que o pedalar provoca, montado nela podemos ir a qualquer lugar do mundo, mesmo que seja apenas na nossa imaginação.
    Não demora e a bicicleta fica pequena e quando chega a maior, a sensação é nova, nos tornamos gigantes, pois não alcançamos os pés no chão, precisando  do apoio da calçada para parar sem cair.
    Símbolo de carinho, alegria e alguns choros, a bicicleta está muito presente na história de nossas vidas como instrumento de lazer, mas não como uma boa alternativa a mobilidade urbana, ao contrário disso, os ciclistas são vítimas constantes de violência no trânsito.
    Neste ano, desde o dia 02 de março de 2012, quando a ciclista Juliana Dias morreu na Avenida Paulista em São Paulo vítima de atropelamento por um ônibus, intensificaram-se as mobilizações e discussões de ativistas pela paz no trânsito e o direito da circulação de bicicletas em segurança, exemplos são as diárias manifestações e o assunto mais presente na mídia e em redes sociais.
    A 5a edição da "Pedalada Pelada", que aconteceu no dia 10 de março, chamou atenção por onde passou de forma irreverente e bem humorada, onde em torno de 100 ciclistas desfilaram nus ou semi nus pela Avenida Paulista clamando por respeito aos usuários de bicicleta e solicitando reflexão sobre o trânsito caótico na cidade de São Paulo e os benefícios ao adotar as bicicletas como solução na mobilidade urbana, combate ao sedentarismo e controle de poluição do ar.
    Falando um pouco sobre a minha experiência como ciclista, há um tempo atrás eu pedalava entre 2 a 4 dias na semana, fosse para fazer exercício físico ou para realizar atividades corriqueiras como ir ao banco, ou supermercado, porém abandonei essa prática e a cerca de 1 ano não pego mais a minha magrela que está guardada num canto da garagem, empoeirada e com os pneus murchos.
    Meu trajeto mais habitual era seguir pela Avenida Eliseu de Almeida até a Cidade Universitária, local onde ainda dava algumas voltas até retornar, somando um total de 19km entre a ida e volta.
    Sempre saia de casa por volta das 9h30 ou 10h, pois neste horário o trânsito é mais tranquilo, mesmo assim não fiquei livre de alguns sustos, por sorte nunca me machuquei seriamente, mas já fui fechada por carro que saia da avenida para entrar em uma rua, veículos que me espremiam no meio-fio e até um caminhão que, não respeitando a distância segura, me jogou em direção a calçada ocasionando uma queda,  sem contar os alagamentos em dia de chuva e as manifestações machistas tão desagradáveis.
    Percebi que quando saia de bicicleta ficava mais estressada em estar sempre atenta as loucuras do trânsito paulista do que relaxava por estar praticando uma atividade que gosto muito e não tardou substituir o uso quase que diário da bicicleta como meio de transporte por passeios ciclísticos inofensivos e eventuais nos parques da cidade.
    Em São Paulo, o excesso de carros e a cultura do individualismo, mantém um trânsito caótico, quase impossível para a circulação de ciclistas, apenas restando espaço para alguns corajosos, que insistem em desafiar as feras estressadas, ou seja, pessoas ao volante.
    É certo que convivemos com a falta de incentivo em forma de políticas públicas a favor do uso das bicicletas como meio de transporte, não há ciclovias que permitam a circulação diária, tão pouco educação e leis insuficientes para garantir a segurança de ciclistas.
    Nesta semana, pressionado pelas mortes e ano eleitoral, o prefeito Gilberto Kassab, resolveu aplicar dois artigos genéricos do Código Brasileiro de Trânsito (CBT) na proteção dos usuários de bicicletas distribuindo multas leves aos que dirigirem sem atenção (artigo 169) e fizerem conversões bruscas (artigo 197). A mesma lei, no artigo 201, fixa que a distância mínima que o motorista deve manter do ciclista é de 1,5 m, mas embora seja uma boa forma de garantir a segurança não está incluso no pacote, pois segundo a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) não é possível fiscalizar devido a dificuldade de observar a distância correta.
    Considero a ação válida, mas longe de resolver os problemas do trânsito de São Paulo que, entre outras coisas, deve abranger vontade na expansão do transporte público com qualidade, sobretudo os que trafegam sobre trilhos e incentivo a veículos não motorizados.
    As ciclofaixas, lindamente ilustradas nas propagandas do governo municipal, são ótimas ferramentas de lazer, porém ainda não colaboram com a circulação diária de bicicletas. 
     Muitas pessoas utilizam a bicicleta para ir ao trabalho ou ainda como instrumento de trabalho, o incentivo almejado colaboraria para que cada vez mais pessoas aderissem a este tipo de transporte que não poluí e ainda colabora com a saúde pública.
    Sabemos que o problema da circulação de veículos automotores versus veículos não motorizados, nem sempre é apenas um problema político, mas há também um problema grave de falta de colaboração, os carros, ônibus e outros não respeitam as bicicletas e acham que estas só existem para incomodar, porém há usuários de bicicleta que não respeitam normas para circular em segurança, andam sem equipamentos necessários, não obedecem as regras do trânsito, não se fazem ser vistos.
    Gentileza é uma palavra que não existe no vocabulário dos paulistanos, estressados, pensam apenas na sua pressa, sem considerar que enxergar e ser visto, entender e colaborar são atitudes simples que estão ao alcance de todos e podem mudar muita coisa.
    Por fim, deixo aqui o meu apelo pelo resgate da GENTILEZA e que através desse vídeo singelo  http://vimeo.com/1280946 , todos procurem relembrar a importância das bicicletas nas nossas vidas.


Bike, estacionada na Sala Crisantempo, com  indicação da distância segura que
os veículos motorizados devem manter de bicicletas.




Manifestações na Praça do Ciclista na Avenida Paulista, São Paulo/SP.






Ciclistas no meio do trânsito na Avenida Paulista,
ambiente hostil ao uso deste meio de transporte.

Fotos: Moreno Dantas
   
     

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