segunda-feira, 17 de outubro de 2011

História de como a luta e a arte podem estar no sangue.




Foto: Moreno Dantas




Terra Viva

(Jorge B.M. de Jouza e José Paz, o Zé dentista da Campininha)


Terra, ambição
Guerras, incompreensão
São muitos com pouco
São poucos com muito

Terra, divisão
Guerras, talvez não
Podemos ser felizes
Viver em paz
Com terra para todos
Com terra para se plantar

Terra não vai faltar
Guerras , nunca mais
Vai ter que ser assim
Essa é a solução
Se não acontecer
Virá a revolução
Viva a revolução

TERRA,GUERRAS e PAZ.....!


Poesia: "Caráter do que emociona, toca a sensibilidade. Sugerir emoções por meio de uma linguagem."*

Minha arte pode ir para o lixo, pode não servir para nada,não interessar a ninguém, mas representam para mim o aprendizado da forma, como no andar balbuciado de um bebê vouu ao encontro da mais delicada maneira de expressar a minha fúria, o meu jeito de amar, o que posso sentir e achar do mundo que me rodeia.
Minhas palavras confusas e minhas imagens sem técnica, ajudam-me a compreender o que nos norteia e atordoa, e nisso tudo nem sempre possui beleza para os olhos de quem enxerga, mas contém muita emoção para a parte de quem fez, por isso me atrevo a denomina-la de poesia.


*Minidicionário Aurélio da Língua Portuguesa. RJ: Nova Fronteira, 1993. 

Cadê?



Desfoque
Cinza esfumaçado
Janela Trincada
Horizonte Inibido

Ideias estacionadas
perdidas aleatoriamente
impossível de reconhecer 
ou retornar

Esqueço, Estremeço
Me arremeço.



Foto e Texto: Mariana Paz M. de Souza

O que há??




Semelhanças fortes
Diferenças existentes
Medos em comum
Paralisia da vida
Laços frágeis estabelecidos
Pelo que o condena.

Permaneço só pelas trevas da vida
Embaraçada,
Desatenta,
Incrivelmente amável,
Destrambelhada
Desastradamente prossigo crédula, incrédula
Novamente tropeço no que não posso fugir
Mesmo amedrontada
Luto ou luto
Por tudo que me faz te sentir aqui.




Texto e imagem: Mariana Paz M. de Souza

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Quando o povo quer, o povo pode: História dos moradores de Campeche contada pela jornalista Elaine Tavares:


Comunidade do Campeche faz ouvir sua voz: cai a passarela
Por Elaine Tavares – jornalista
 
De repente, no meio das dunas, entre o verde da mata e o amarelo da areia começou a crescer um monstro de pau. Misteriosamente vinha de um condomínio de luxo, construído na beira da praia. Por dias, o que se via da areia era uma profusão de madeiras, pregos e homens. A comunidade espiava, no seu jeito ilhéu, cismando. E o monstro vindo.
 
Então, numa manhã, aquela língua de madeira chegou à praia, destacando-se nas dunas como uma ferida aberta, uma grotesca chaga, um manifesto separatista. Desembocava cinicamente, e sem pudor, no exato lugar onde por anos vicejou o bar do Chico, espaço solidário da comunidade do Campeche, lugar das conspirações, das lutas e das festas populares.  O bar que foi derrubado numa manhã chuvosa e gris, sem que as gentes do lugar pudessem fazer nada, depois de levar anos em luta para mantê-lo onde estava. Vieram as máquinas e os homens do poder. “Está sobre as dunas, tem que cair”, diziam.
 
Agora, o Condomínio Essence, um pequeno monstrengo moderno, de dezenas de apartamentos espremidos entre si, mas de alto padrão, reafirmava seu poder, tripudiando da comunidade na qual pretende incluir mais de mil moradores. O monstro de madeira era uma passarela que ia desde a saída dos prédios até a beira da praia, serpenteando por entre as dunas. Um refúgio seguro para os privilegiados moradores. Uma caminhada de 300 metros sem colocar o pé no chão. A natureza servindo utilitariamente apenas como paisagem.  
 
A comunidade que cismava, decidiu agir. Vieram reuniões, idas aos órgãos ambientais, prefeitura, secretarias. Se o bar do Chico caíra, porque a passarela haveria de ficar nas dunas? “Vai proteger”, alardeavam alguns defensores da natureza. Mas, quem vive no Campeche sabe muito bem o que é que protege as dunas e a natureza. É a gente do Campeche, pessoas que amam o lugar e que amam viver num bairro jardim, onde a natureza não é coisa, é parte de cada um. Esse povo não protege a natureza porque é bonito ver o verde, as dunas e a praia. Protege porque o verde, as dunas, a praia estão entranhados no modo de ser de quem vive nesse lugar, nativo ou não.
 
Todos os caminhos institucionais foram trilhados, mas ninguém ouviu o clamor. O secretário do “desenvolvimento” ainda ameaçou: “Isso é o futuro. Virão outras”. Isso porque o projeto dessa gente que administra a cidade é fazer uma Florianópolis só para quem pode pagar bem caro por ela. E isso inclui a natureza. Nos enormes cartazes das construtoras, a praia, a areia, o sol, tudo está à venda, incluído no preço. E com um sabor a mais. A pessoa ainda não precisará viver o incômodo de sujar o pé. Pode pegar sua cadeirinha na porta de casa e ir até a beira do mar protegida pela passarela. Haverão de banhar-se?
 
Na última sexta-feira (30) o povo protestou. Nada aconteceu. No dia seguinte, voltaram as gentes. Desta vem em maior número. Sábado de sol. Praia bonita. Passarela terminada, bem nos destroços do bar do Chico. Era coisa demais. Uma instalação artística re-construiu o velho bar, com uma foto do seu Chico.  Alguns choravam. Outros reclamavam, indignados. Então alguém gritou: “ao chão”. O mesmo grito dos homens do poder ao histórico bar numa manhã chuvosa. Mas, nesse sábado, não teve máquina. Teve gente. Teve comunidade. Uma a uma, unidas em pequenos grupos, as pessoas foram arrancando os paus, na mão mesmo, puxando,  quebrando, libertando a duna do monstro de pau. Em pouco tempo já havia uma montanha de madeira e o malfadado “deck” já era. Ouvia-se o riso, corriam as lágrimas, palmas. “Foi um dia histórico. A comunidade mostrou que, unida, pode fazer valer a sua voz”.
 
A passarela foi arrancada da duna, mas a luta não acabou. Essa é uma queda de braço entre dois projetos muito claros: um deles prega o desenvolvimento predador, ainda que só de alguns, os clientes. O outro insiste em manter um modo de vida que avança com o tempo, mas que não destrói. Que preserva cultura, jeito de ser, simplicidade e harmonia com a natureza. É uma batalha titânica que cabe agora ao sul da ilha. O norte já passou por isso e perdeu. Aqui no Campeche, agora que é noite e cai uma chuva fina, as pessoas estão em casa, cismando e fazendo planos. Conheço meus vizinhos e sei: se depender de cada um, a passarela não volta mais.
 
 
Existe vida no Jornalismo
Blog da Elaine: www.eteia.blogspot.com